Não sei por que hão-de os grandes mestres da literatura policial aparecerem nas suas fotos com o inseparável cachimbo. Talvez porque é inseparável, presumo eu.
Raymond Chandler é um dos maiores mestres deste género. O seu livro "The Long Goodbbye", uma das suas melhores obras.
Escrito com sagacidade, humor e com recurso a uma escrita na primeira pessoa, colocando-nos a ouvir a personagem principal, Philip Marlowe, neste livro, Chandler consegue prender-nos à leitura, deixando o nosso interesse em crescendo à medida que as páginas se seguem. Não admira que nos esqueçamos da hora do almoço ou do jantar, nem se ouça chamar da cozinha - "o comer está na mesa!"
A edição que possuo é, naturalmente a da Colecção Vampiro (nº 101), com 334 páginas traduzidas por Mário Henrique Leiria. O título desta edição é, para mim, o melhor conseguido: "O Imenso Adeus". A capa é da autoria de Cândido Costa Pinto.
Resumo:
Philip Marlowe conhece Terry Lennox numa altura em que este atravessa uma fase pouco positiva da sua vida. A amizade entre os dois vai-se aprofundando e o detective Marlowe decide ajudar o novo amigo… Uma noite Lennox aparece em casa do detective pedindo-lhe que o leve de carro ao aeroporto de Tijuana. Desconfiando do que poderá ter-se passado, Marlowe aceita recusando-se a saber os motivos da fuga. No regresso o detective é preso, acusado de cumplicidade no assassínio da mulher de Lennox. Ao fim de três dias é libertado. Lennox ter-se-ia suicidado, deixando uma carta em que confessa o assassinato da mulher. Mas o detective não acredita naquela versão dos factos e decide investigar o caso por conta própria, envolvendo-se em sórdidos segredos da fervilhante Califórnia dos anos 50. Um livro empolgante que levará o leitor a um desfecho surpreendente.
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Este foi um dos livros da Colecção Vampiro – e de Chandler, em particular — que li com mais entranhado interesse, numa altura em que estava de férias em Malanje, cidade do norte de Angola, em casa de um tio que tinha uma biblioteca recheada de romances policiais e de ficção científica. Enquanto lá estive, com a minha mulher e as minhas filhas ainda pequenas, "enchi o papo", lendo o que escolhia ao acaso nas suas estantes, mas com tanta sorte que me vieram logo parar às mãos esta obra-prima de Chandler (talvez mesmo o seu melhor livro) e outra obra-prima, de outro grande mestre: "O Mundo Marciano", de Ray Bradbury.
ResponderEliminarQuando acabaram essas férias deliciosas e inesquecíveis, em finais de 1965 – tempo ainda de guerra em Angola – e voltei a casa, no Cuanza-Sul, após uma longa viagem de camioneta, o "bichinho" dos policiais e da ficção científica estava tão entranhado que passei meses, nas horas de ócio, a ler mais romances de Chandler e de Bradbury, aos quais se vieram juntar outros autores de igual nomeada.
Para cúmulo da felicidade, esse meu tio (falecido há muitos anos e que nunca deixou Angola, a terra dos seus amores) ofereceu-me, à despedida, "O Imenso Adeus" e "O Mundo Marciano", num gesto tão desprendido como se me desse um farnel para a viagem.
Ainda hoje lhe estou grato e venero a sua memória, conservando religiosamente, na minha colecção da Vampiro e da Argonauta, esses dois volumes, embora já muito velhinhos.
É bom recordar... e graças a si fiz agora uma curta viagem no tempo!
Um caloroso abraço do
Jorge Magalhães
Caríssimo Amigo Jorge~
ResponderEliminarSatisfaz-me saber que, entre nós, há gostos comuns; não apenas na literatura policial e na banda desenhada mas, dentro dos géneros, a particularidade das obras e dos autores, como neste caso.
De Chandler, posso dizer que tenho livros em duplicado - nalguns casos, em triplicado, pois fiz também a colecção do Círculo de Leitores, em boa obra produzida em 12 volumes encadernados, deste autor, já lá vão uns anos (1987).
Para além de "O Imenso Adeus" - este título foi feliz na tradução da Vampiro e imitado na do CL - tenho mais duas obras de referência de Chandler - "A Dama do Lago" e "À Beira do Abismo".
Aproveito para falar de um actor que é, para mim, um outro ícone na esfera das obras do escritor levadas ao cinema, que é o inimitável Humphrey Bogart, muito superior ao Powers Boothe, na pele do detective Philip Marlowe.
Um grande abraço, um bem-haja pela visita e pela sempre oportuna participação
Santos Costa