terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A(O) PERSONAGEM ESCREVE SOBRE O AUTOR




Não sei se a alguma personagem foi dada a oportunidade, pelo seu autor, de se expressar, nem isso me interessa. No meu caso, o autor, deu-me liberdade para dizer, por mim e por ele, o que acho deste seu último romance, onde sou protagonista e parte.
Como saberão todos os que leram ou que eventualmente irão ler o livro, eu não estou identificado pelo nome - opção apenas do autor, que me contrariou -, mas todos perceberam que eu sou colega dele, no activo, enquanto o escritor já passou à reserva. Logo, estou à vontade para dizer o que penso e deixar-lhe aqui alguns conselhos pertinentes; e ele, se bem entender na sua casmurrice, deve ter em conta.
O Primeiro. Cem livros que ele venha a publicar, sem convites e sem lançamentos será o meu conselho. Convidar este mundo e o outro para só aparecerem os amigos, que de facto o são, para pagarem o livro, não se faz! É como convidar esses mesmos amigos para almoçarem em casa dele e cada um pagar o próprio almoço.
O Segundo. Se cair na esparrela de continuar a "convidar", que o faça através de uma comunicação com o título de Evento. Como sabem, o Evento é o deus romano que representa o Acaso, que se complementa com as divindades Fado e Destino. A apresentação de um livro que assim se designe integra-se no âmbito do Acaso, da Disponibilidade e da Amizade, factores que preenchem ou deixam sem ocupantes as cadeiras de um auditório; e evitam que os fotógrafos, num misericordioso jogo de enquadramentos, preencham a imagem apenas com as cadeiras ocupadas.
O Terceiro. Se persistir no Evento, que esteja atento às promessas do editor, não vá acontecer, como neste caso, que os convites e os cartazes prometidos, não tenham chegado, obrigando o pobrezinho a imprimir à pressa, a preto e branco, quarenta convites, dos quais apenas distribuiu, como carteiro e no dia anterior, apenas vinte e cinco. Para além de provar a sua inaptidão para trabalhador dos CTT, fez 25 apresentações prévias da obra, o que limita o tempo disponível para a tarefa.
O Quarto. Antecipadamente - e sem dizer para quê - procure indagar no círculo de amigos, os dias em que estão disponíveis, uma vez que, por Acaso de ambas as partes, agenda o lançamento para alturas em que os ditos não estão legitimamente disponíveis. Ora bem, eu vou ser sincero: se me convidassem para almoçar, com o intuito de eu pagar o almoço e ser servido por uma refeição que eu nem sequer escolhi, era capaz de arranjar uma piedosa escusa justificável. No caso dele, até teve sorte: apareceram pessoas que nem sequer tinham sido convidadas.
O Quinto. Se quiserem remeter um "press release" para anunciarem nos jornais locais, regionais ou nacionais, como notícia, o dito Evento, procurem pagar do próprio bolso a publicidade, porque isso é, para a maioria, a "não notícia", do género daquela do cão que mordeu o homem e não do homem que mordeu o cão. Os "media" não consideram a cultura notícia, a não ser que o escritor se imole, na praça pública, com a sua obra e uma garrafa de gasolina, se houver roubo de um quadro, se o maestro agredir com a batuta o pianista ou o realizador de cinema apalpar, em público, as nalgas da actriz principal. Por isso, paguem a publicidade. Lá diz o provérbio: " quem quer bolir com a moça, bole com o pé e com a bolsa".
O Sexto. Sigam o pensamento de Fernando Pessoa: "Que me pesa que minguém leia o que escrevo? Escrevo-me para me distrair de viver, e publico-me..."
O Sétimo. Este é o conselho para todas as personagens de todas as obras dos escritores e para os respectivos leitores. Nem tudo o que lá vem é verdade ou ficção. É o bestunto do autor a trabalhar. No meu caso - e pesa-me dizê-lo - calhou-me este Santos Costa, que não beneficiou a minha imagem, não consegue espalhar a minha fama e, ainda por cima, quase me enxovalha com os convites. Por isso, remato com a adaptação de um ditado popular: "Nem bois de cornos grandes, nem editoras grandes, nem burro que faz "im",nem escritores que escrevam o que este escreveu de mim, nem mulher que sabe latim e das que mijam em pé livre-nos Deus e dominé".

3 comentários:

  1. Meu caro Amigo,
    O seu personagem tem razão! Quem se fia nas promessas de alguns editores acaba, às vezes, por ter más surpresas!...
    Aliás, não percebo muito bem por que é que, tendo a Chiado Editora a sua sede em Lisboa, como julgo, não se lembrou de realizar a sessão de lançamento na capital, sítio mais apropriado, talvez, do que Trancoso para apresentar o livro e atrair leitores – além dos amigos residentes nestas paragens, que decerto acorreriam em maior número. O "estiranço" até Trancoso, nesta época do ano e com o tempo que tem feito, não era muito sedutor – o que motivou certamente algumas ausências, como a minha; e por outro lado, o evento poderia ter tido mais repercussão na imprensa, pois a de âmbito regional, infelizmente, só serve os leitores que vivem nessas bandas.
    Outro pormenor, a propósito das notícias sobre o livro: não seria possível transcrevê-las em texto corrido no blogue, já que as imagens não se podem aumentar até um tamanho razoável e perfeitamente legível?
    Abraços,
    Jorge Magalhães

    ResponderEliminar
  2. Caríssimo Jorge Magalhães

    A editora apenas "falhou" no envio dos convites e dos cartazes. No resto, portou-se muito bem. Propuseram-me a apresentação, em Lisboa, numa das livrarias onde é costume disponibilizarem o espaço adequado, a quem o queira, para estes lançamentos - Livraria Les Enfants Terribles (Cinema Nimas) -, mas eu optei, no começo, para o fazer num local onde, presumidamente, haveria mais público localizado e identificado ou mais interessado e conhecido. A acrescer a isso, no mesmo dia, havia a proposta de um pré-lançamento no almoço de Natal dos funcionários dos impostos do distrito da Guarda, o que aproveitei, revendo amigos e ex-colegas, para além de lá deixar uma boa parte de livros autografados.
    Ocasiões para a apresentação já foram sugeridas e oferecidas, como o caso (aí,sim, em Lisboa, do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos) e na Biblioteca Municipal de um concelho vizinho deste. No entanto, tenho de pensar no que o meu personagem "aconselhou", designadamente no que toca à forma e ao resultado dos "convites". Nem quero pensar que, pela amizade, alguém se veja forçado a adquirir um livro que não lhe interesse ler!...
    Houve outros amigos que, residindo em Lisboa e arredores, manifestaram o interesse na sessão; todavia, é compreensível que a distância, o tempo e a meteoorologia, não proporcionem facilidades a quem, genuinamente - como é o seu caso e de outros mais - pudessem estar, para honra minha, nesse evento.
    O meu personagem, tal como o autor, nem sempre tem razão. Se algo temos em comum - pois ele é física e mentalmente diferente de mim, sem usufruir, ao menos, de um heterónimo, como fez Pessoa - é a resposta pronta, directa e sem "papas na língua". Daí uma "canelada" dada, no post seguinte, a uma determinada imprensa, que recebeu a notícia do lançamento e desdenhou, como aquele do provérbio - "deixa o cavalo cagar, que o campo é largo".. Um título e duas linhas, quanto mais não fosse para registar um pequeno acontecimento cultural num distrito minguado nesse alfobre, se bem que não contribua para aumentar o ego ou as vendas, respectivamente do autor e do livro, seria digno de divulgação. Assim não aconteceu, doendo a omissão como a falta de justificação após o manifesto pessoal e escrito da perplexidade. E doeu por conhecer, neste processo sem processo, algumas pessoas que me conhecem.
    Relativamente à notícia sobre o livro, irei reproduzi-la, em texto, no blogue, aceitando a sua sensata sugestão.

    Abraço
    Santos Costa

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Jorge
      Já inseri o texto do jornal, no post que a este se segue, por forma a torná-lo mais visível e, de tal sorte, legível.
      Obrigado pela sugestão
      Abraço
      Santos Costa

      Eliminar